Por Romina Lindemann, diretora-executiva da Fazenda Preserva Mundi – www.preservamundi.com.br
Azadirachta Indica pode soar um pouco estranho para alguns, mas este é nome científico do nim, árvore de origem indiana que há mais de 4 mil anos é utilizada nos mais diversos tratamentos. Por este motivo, desperta grande interesse da classe científica, inclusive na produção de mudas. A principal substância ativa do nim é a azadirachtina, sendo que outros triterpenoides, geduninas, nimbin e liminoides atuam em conjunto na ação inseticida.
A pós-doutora em química orgânica e professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Maria Fátima das Graças Fernandes da Silva, aponta que cerca de 400 espécies de insetos foram relatadas em pesquisas como sensíveis a algum tipo de ação do nim. "Além desse tipo de ação, o nim tem efeitos sobre outros organimos, como nematóides, fungos, vírus, protozoários", diz, explicando que o produto, que atua como bioinseticida, se revela praticamente inócuo ao ambiente e ao homem.
Na produção de mudas de praticamente todas as espécies (frutíferas, hortaliças, reflorestamento etc), o nim tem se mostrado uma alternativa importante e de baixo custo para proporcionar melhor desenvolvimento do sistema radicular e da parte aérea das plantas, promovendo melhor aspecto fitossanitário.
Em média, a utilização do pó de nim na proporção de 1% a 5% no substrato é suficiente para auxiliar na proteção contra fungos do solo e insetos subterrâneos, favorecendo o desenvolvimento das raízes e o combate de pragas como o fusarium.
Fusariose
O controle da fusariose é difícil, por se tratar de um patógeno que pode sobreviver por longos períodos no solo e não se dispor de tratamentos biológicos satisfatórios.
Recentemente, a Embrapa Amazônia Oriental (Belém-PA) comprovou que a incorporação de folhas de nim indiano no solo ainda na fase de produção de mudas da pimenteira-do-reino (Piper nigrum L.) permite que as mesmas sejam transplantadas para o campo totalmente livres da fusariose, combatendo, assim, um dos mais antigos, maiores e graves entraves desse setor produtivo no País. A doença, também conhecida por podridão de raízes, dizima pimentais e causa prejuízos que não ocorrem no exterior, pois em outros países produtores está sob controle.
A doença é causada por um fungo presente no solo, o Fusarium solani f. sp. piperis. Não há cultivares comerciais resistentes, nem tratamento químico eficaz contra o fusarium. Isso potencializa ainda mais os benefícios da nova tecnologia, especialmente entre agricultores familiares e pequenos produtores, pois é de fácil aplicação e baixo custo.
O controle alternativo da fusariose em mudas permite a implantação de novos pimentais com material propagativo sadio, retarda o aparecimento natural da doença no campo e diminui sua disseminação para novas áreas de plantio.
Os resultados da pesquisa estão publicados no Comunicado Técnico “Tecnologia para o controle da podridão de raízes em mudas de pimenteira-do-reino”.
O mesmo tipo de resultado foi encontrado pelo pesquisador Gilson Soares da Silva da Universidade Federal do Maranhão. No trabalho, ele procurou avaliar o efeito da incorporação de folhas trituradas de nim ao solo, sobre o complexo Fusarium x Meloidogyne em quiabeiros.
O resultado: em todos os tratamentos onde se usou folhas de nim houve redução na incidência da doença, evidenciada pela percentagem de controle. A incorporação de 50g de folhas frescas de nim foi eficiente para o controle de Meloidogyne e Fusarium isoladamente, bem como na interação desses patógenos.
O controle da fusariose e nematóides se dá também na produção de leguminosas como a soja e o feijão.
Outro caso bastante conhecido e divulgado é o do Engenheiro Agrônomo e produtor rural Élton Vargas, proprietário do viveiro Tekoá, em Águas Mornas (SC). Reconhecido como um dos pioneiros do uso do nim na composição do substrato para a produção de mudas, ele relata que passou a ter um controle mais efetivo de pragas que atacam as folhas e raízes, e que o enraizamento se tornou mais saudável e vigoroso.
Vargas tem utilizado o nim na produção de mudas de hortaliças e eucalipto. "O resultado foi impressionante, e as mudas tiveram um enraizamento fantástico, resultando em uma ida mais cedo para o local definitivo de plantio. E o mais importante de tudo, tive uma eficácia de 95% no controle de larvas de Fungus gnatis", afirma o produtor.
Diversas pesquisas têm demonstrado que a adição ao solo de produtos derivados do nim (Azadirachta indica Juss) tais como folhas, óleo e torta reduzem consideravelmente a incidência de fitonematóides e de alguns fungos fitopatogênicos.
A busca por métodos alternativos de manejo das doenças da agricultura vem aumentando nos últimos anos, em decorrência dos efeitos nocivos que os defensivos agrícolas provocam ao meio ambiente e à saúde humana. Diante disso, os produtos à base de nim podem se tornar um poderoso aliado na busca por uma agricultura limpa e sadia.
* Artigo originalmente publicado no site Paisagismo Digital -
http://www.paisagismodigital.com/Noticias/default.aspx?CodNot=289&CodSecao=3
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