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Negócios Sustentáveis: Estudos Indicam Caminhos de Transição Verde

por Fatima C. Cardoso*

O tema central da conferência Rio+20 será a economia verde, aquela que teoricamente consegue promover melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social e ao mesmo tempo reduz riscos ambientais e escassez ecológica. A definição é do PNUMA, agência para o meio ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU).

Para a agência da ONU, a economia verde é o caminho para realizar o desenvolvimento sustentável, outro conceito que foi consagrado na Eco 92, a conferência que também aconteceu no Rio de Janeiro há 20 anos. A compatibilização do desenvolvimento econômico com a sustentabilidade ambiental e social do planeta depende de um modelo econômico diferente, que considera o capital natural um bem econômico, tem baixa emissão de carbono, é eficiente em seu uso de recursos e socialmente inclusiva.

O debate sobre um novo modelo econômico torna-se crítico quando se constata que, passadas duas décadas da ECO 92, o uso descontrolado dos recursos naturais é cada vez maior e a marginalização social continua a crescer.

A preparação da Rio+20 tem gerado uma série de documentos e estudos com o objetivo de encontrar caminhos para essa economia mais inclusiva e menos destrutiva. Um grupo de especialistas mundiais em meio ambiente publicou recentemente um documento reunindo um conjunto de recomendações para os líderes governamentais sobre ações necessárias para se alcançar o ideal do desenvolvimento sustentável. Intitulado "Desafios ambientais e desenvolvimento: o imperativo para agir", o documento foi elaborado por 20 cientistas laureados com o Blue Planet Prize, concedido pela fundação japonesa Asahi Glass Foundation, e considerado o Nobel do meio ambiente.

Os cientistas recomendam no documento eliminar os subsídios em setores como os de energia, transporte e agricultura e substituir o Produto Interno Bruto (PIB) como medida de riqueza dos países. Eles defendem ainda a criação de mecanismos para conservar e valorizar a biodiversidade e os serviços do ecossistema, além de novos mercados que possam formar as bases para uma economia que contabiliza os custos sociais e ambientais. O que os cientistas querem dizer é que a transição para uma economia verde depende de um conjunto de regulamentos nacionais e políticas, além de acordos globais sobre subsídios e incentivos, mercado internacional e infraestrutura. Atualmente as instituições que norteiam a economia mundial não facilitam essa mudança, ao contrário, estimulam o status quo, como o uso excessivo de combustíveis fósseis.

Em estudo feito em conjunto com o PNUMA e divulgado durante um evento preparatório para a Rio+20 em Nova York, a empresa de consultoria global KPMG revela que a mudança é urgente e que as empresas correm riscos financeiros por não incluírem os custos associados a problemas ambientais nos seus planejamentos financeiros. De acordo com o cálculo feito por outra consultoria parceira no estudo, a Trucost, os custos ambientais não computados pelas empresas já chegam a US$ 846 bilhões. O cálculo leva em consideração 11 setores chaves como alimentos, bebidas, petróleo e gás, automóveis e telecomunicações e são estabelecidos valores para 22 impactos ambientais considerados os mais relevantes na realização dos negócios desses setores, como a emissão de gases de efeito estufa, o uso da água e a geração de resíduos.

Para ficar de olho

Selo de carbono - A rede de supermercados britânica desistiu de calcular a pegada de carbono dos 70 mil produtos à venda nas suas prateleiras. A empresa tinha se comprometido com o tema em seu plano de sustentabilidade, mas decidiu voltar atrás. A Tesco não vai mais cobrar que seus fornecedores calculem sua pegada de carbono e adotem o selo da Carbon Trust, consultoria britânica que desenvolveu uma metodologia de cálculo de inventário de emissões em cadeias de produção e a certificação Carbon Reduction Label (algo como Selo de Redução de Carbono). Para a Tesco, o processo de certificação é muito caro e demorado, além de outros supermercados não terem aderido ao esquema. O selo da consultoria britânica foi lançado em 2007 e está presente em mais de 90 marcas e 5 mil produtos, especialmente na Europa e nos EUA.

* Fátima C. Cardoso é jornalista, com Pós-Graduação em Ciência Ambiental, e especialista em assuntos ligados à sustentabilidade e responsabilidade socioambiental

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